The blackboard and the lathe : SENAI "Robert Mange", Campinas, Brazil

Resumo: Ensinar a trabalhar é uma preocupação presente nos mais diversos agrupamentos humanos. No Brasil, registros sobre espaços de formação profissional aparecem desde o período colonial. No lar, nas oficinas, nos engenhos ou em escolas, o ensino de ofícios é uma constante, apresentando, muitas vezes, características próprias da filantropia ou da caserna, sendo quase sempre destinado aos "pobres, órfãos e desprovidos da sorte". Nos anos finais do Império e nas primeiras décadas da República, o Estado, a sociedade civil e a Igreja criaram várias instituições dessa natureza com a preocupação declarada de, a par da formação profissional, tentar manter a paz social pelo confinamento de jovens e crianças em espaços onde se formariam os futuros trabalhadores braçais, já que o trabalho intelectual era destinado aos filhos das elites. Em 22 de janeiro de 1942, parte integrante da assim chamada "Reforma Capanema" foi criado o SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial pelo decreto-lei 4.048 do então presidente Getúlio Vargas, a partir da interferência direta da elite empresarial, representada por Roberto Simonsen, Roberto Mange, Euvaldo Lodi e outros. A justificativa para tal criação foi a "falta de braços necessários ao parque industrial, então em franca expansão". Defendemos, porém, a tese de que essa premissa não é verdadeira e que a criação de escolas voltadas ao ensino de profissões foi, na verdade, necessária à manutenção e crescimento do capitalismo. A institucionalização do SENAI, diferente do discurso que afirma que os industriais o teriam "idealizado" a pedido do governo, percebemos que nem a massa empresarial (formada por pequenos e médios empresários) e nem os próprios operários o compreenderam num primeiro momento, não o identificando como um órgão pertencente a todos, mas como um encargo a mais, pelo recolhimento compulsório de impostos e que poderia causar desemprego aos não freqüentadores. Uma vez implantado, entretanto, o SENAI acabou por se constituir, por muitos anos, como o órgão hegemônico de formação de mão-de-obra industrial no Brasil, procurando, cada vez mais, uma aproximação com o sistema produtivo e cada vez menos com a educação. Esta tese procurou analisar a maneira como se configura a educação profissionalizante ofertada pelo SENAI à luz do materialismo históricodialético, refletindo sobre o método adotado (as S.M.O - Séries Metódicas Ocupacionais), os critérios para seleção e ingresso de alunos-aprendizes, suas normas acadêmicas e administrativas, o perfil do aluno que espera formar e as permanências e rupturas ocorridas no interior do processo nesses quase setenta anos de sua existência. Utilizando como modelo para análise a Escola SENAI Roberto Mange, de Campinas, nossa pesquisa apontou que o SENAI instituiu um modelo de educação profissionalizante que transita entre o desejo das classes dominantes de se manterem no poder para, a partir dali, capacitar trabalhadores que elas mesmas utilizarão e o discurso da "prestação de serviços", através do qual tenta convencer a opinião pública de que pratica uma educação democrática e desinteressada, afirmações que nosso trabalho procurou contribuir para desconstruir.Abstract: Teaching young people and children how to work has been an usual concern in the majority of the human groups. In Brazil, it appears since the colonial period: inside the houses, at workshops or in proper institutions, professional education has always been developed, but maintaining the characteristics of philanthropy or the army, it has been, most of the time, destined to "poor, orphan or misfortunate people". During the final years of the Imperial period and the first decades of the Republic period, the government, the civil society and the Church created some institutions of this type with the stated goal to not only provide professional education but also to try to keep the social peace, by keeping poor teenagers and children indoors, in spaces where they could be rained to be future manual workers, because the intellectual work had lways been reserved to the rich children. In 1942, as an integrating part of the so called "Capanema Reformation" SENAI (National Service of Industrial Learning) was created through Edict number 4048 by President Getulio Vargas, with the direct interference of the entrepreneur elite, represented by Robert Simonsen, Robert Mange, Euvaldo Lodi and others. The explanation for such creation was the "lack of necessary arms to the industrial field, then in expansion". We defend, however, the thesis that this premise is not true and that the creation of schools providing professional formation was, actually, necessary for the maintenance and growth of the capitalism. The institutionalization of SENAI, differently from the speech which states that the industrial managers had "idealized" it due to a demand from the government, our researched showed that nor the enterprise mass (small and medium business owners) nor the workers had understood it at first, not being able to see it as an institution which belonged to all. but as another duty for taxes collection which could bring unemployment to those who wouldn´t attent it. However, once implemented, SENAI turned out to be, for many years, the hegemonic institution for the formation of industrial labor workers in Brazil, searching to be closer to the productive system and further from education itself. This study meant to analyse the way how the professional education offered at SENAI is configurated based on dialect-historical materialism, considering the method which was adopted (the SMO - Occupational methodical grades), the criteria for approval and enrollment of apprentice-students, it´s academical and administrative rules and the profile of the students the institution expects to form and also the parts of the interior process which remained and which were ruptured during its almost seventy years. Using SENAI Roberto Mange school, in the city of Campinas, as a subject of study, this research concluded that SENAI established a model of professional education which moves between the desire of the elite to hold the power to, through such courses, train workers who they will be able to hire later and the speech of "rendered public service", through which they try to convince the public opinion that an uninterested democratic education is actually offered, and with this research we hope to have helped decompose such statements